O que é o Método Socrático?

Aqui, exploramos como aplicar esse ensino com clareza, propósito e sabedoria, respeitando o estágio de desenvolvimento dos nossos estudantes e preparando-os, com firmeza e paciência, para um dia se tornarem verdadeiros dialéticos.
O que é o Método Socrático?

Ingressei no universo do aprendizado clássico há cerca de 15 ou 16 anos, e comecei a lecionar dentro desse paradigma há aproximadamente uma década. Desde então, a cada novo ano, continuo aprendendo, amadurecendo e (assim espero) aprofundando minha compreensão sobre o que significa ensinar e aprender. Uma das primeiras ideias que me foram apresentadas nesse mundo foi o chamado “Método Socrático”. Essa abordagem — amplamente valorizada por muitas escolas cristãs clássicas — é, muitas vezes, apontada como parte essencial do processo educacional clássico.

Em poucas palavras, o Método Socrático é um meio de investigação sobre um determinado assunto por meio de perguntas esclarecedoras. O valor dessa abordagem (em oposição aos métodos didáticos de instrução, como a aula expositiva) reside no fato de que ela convida o aprendiz a ser um participante ativamente engajado, que descobre a verdade em vez de ser informado sobre o que é verdadeiro. No entanto, essa abordagem, se não for executada de maneira adequada, pode também ser bastante desastrosa. Algumas versões do que se chama de “Método Socrático” nada mais são do que um grupo de estudantes apenas dizendo o que pensam ou como se sentem a respeito do que estão lendo ou discutindo, sem qualquer evidência ou razão que os sustente. Nos piores casos, o professor nem sequer tem em mente um objetivo claro quanto ao rumo que a discussão deve tomar ou como alcançá-lo. Talvez o professor sequer saiba como é formulada uma boa pergunta sobre o assunto. A “indagação socrática” pode rapidamente se transformar em um devaneio sem rumo, sem jamais convergir para algo que se assemelhe à verdade e à realidade objetiva.

Como podemos evitar tais problemas em nossas próprias salas de aula?

Gostaria de apresentar uma tese a respeito do Método Socrático que, acredito, nos ajudará a evitar as armadilhas bastante reais dessa abordagem. Minha tese principal é que o Método Socrático possui dois modus operandi (modos de operação) distintos. Para nossos propósitos, vamos chamar o primeiro de “Discussão Socrática” e o segundo de “Ensino Socrático”. Em minha opinião, a incapacidade de compreender e distinguir entre esses dois modos gera confusão na sala de aula e prejudica o processo educacional que buscamos proporcionar aos nossos alunos.

Sobre o primeiro modo do Método Socrático, a “Discussão Socrática”, um termo mais preciso e técnico seria dialética. A palavra dialética vem do grego διαλεκτική e, essencialmente, significa “a arte do discurso”. Contudo, a ideia vai além de simplesmente ser um bom conversador. O método dialético envolve duas ou mais partes, tipicamente com opiniões opostas, fazendo perguntas umas às outras em busca de compreensão, clareza e (idealmente) concordância quanto à verdade do assunto. Uma pessoa pode estar certa e a outra errada, ambas podem estar parcialmente corretas, mas não por completo, ou ambas podem estar completamente equivocadas; porém, por meio da formulação de perguntas esclarecedoras e do exame cruzado (enquanto se mantém a firme crença na existência objetiva e na possibilidade de conhecimento da verdade), a conversa conduz a um maior esclarecimento e, esperançosamente, a uma reconciliação com a verdade para todos os envolvidos.

Às vezes, Sócrates utilizava a dialética com amigos e, assim, com um tom mais amistoso. Outras vezes, ele a aplicava com inimigos, e sua habilidade superior em formular perguntas evidenciava a tolice destes. Em todos os casos, ele convidava seus interlocutores a participar igualmente da discussão. Não se importava se eles se afastassem por algum caminho na busca do tema principal, mas sempre os reconduzia à questão central caso se dispersassem demais.

Um ponto importante a destacar é que Sócrates costumava empregar a dialética em diálogos com homens maduros e bem instruídos. Presumia-se que esses interlocutores já possuíam a formação necessária — em especial, a formação liberal necessária para se envolver na investigação das grandes questões da vida humana: religião, política, guerra, moralidade, estética e outros temas fundamentais. Alguns de seus interlocutores são claramente “jovens”, mas são quase sempre homens adultos. Esse fato nos leva a considerar cuidadosamente a seguinte questão: Devemos praticar a Discussão Socrática (dialética) com crianças?

Acredito que a resposta é não.

Para praticar a dialética, devemos essencialmente assumir que estamos falando com pessoas totalmente instruídas, que possuem a experiência e a formação prévia para lidar com esses temas profundos. Devemos também assumir que já possuem uma opinião estabelecida sobre o assunto em discussão (presumivelmente com razões que a sustentem). Nada disso se aplica a um aluno do 7º ano, nem mesmo a muitos alunos no último ano de Ensino Médio. Até que alguém conclua o curso completo da educação em Artes Liberais, não está realmente qualificado para entrar na dialética de uma forma que beneficie tanto a si mesmo quanto às pessoas com quem conversa. É necessário primeiro que encha totalmente o próprio copo, para que o transbordamento deste possa beneficiar os demais de maneira útil. Em um mundo ideal, são nossos pastores, políticos e outros líderes da sociedade que deveriam estar praticando a dialética e buscando o que é verdadeiro, bom e belo para o bem comum de nosso povo.

Então, o que dizer de nossos estudantes cristãos clássicos em escolas cristãs clássicas? Chega de método socrático? Não, ainda há espaço para a influência socrática. No entanto, eles devem sorver primariamente de outro modelo.

O que nossos alunos deveriam receber de nós é o Ensino Socrático. Qual é a diferença? O exemplo primordial vem do Mênon de Platão. Em Mênon, Sócrates discute a questão da virtude com um homem chamado Mênon e tenta estabelecer sua essência (a forma da própria virtude). No meio dessa discussão, porém, surge uma conversa muito fascinante acerca da tese de Sócrates e Platão de que todo o conhecimento já está dentro de nós, armazenado de vidas passadas, mas que fica trancado em nosso interior devido ao processo de reencarnação. Segundo a tradição grega e romana, antes da reencarnação, os homens devem atravessar o rio Lete, no submundo, o qual apaga suas memórias. Sócrates diz a Mênon que pode desbloquear esse conhecimento interior no rapaz, simplesmente fazendo perguntas. Sócrates “provou” a Mênon que isso era verdade ao conduzir um jovem, um dos escravos de Mênon (que não possui a formação completa ou a educação liberal que um homem adulto e livre teria), a conclusões sobre a Geometria – mesmo que o garoto nunca a tenha estudado antes – apenas por meio de uma sucessão de perguntas básicas.

Longe de provar a doutrina da ἀνάμνησις (redescoberta), o que Sócrates realmente demonstra é o poder de conduzir as pessoas à verdade por meio de perguntas direcionadas. Pergunte a qualquer bom advogado sobre esse poder ao interrogar uma testemunha ou um suspeito em tribunal, e ele poderá contar tudo a respeito! Isto é Ensino Socrático, e não discussão socrática. Note que a diferença crucial é que o professor já tem em mente o conceito que deseja transmitir ao aluno. O professor não faz perguntas cujas respostas desconhece. Ele elabora uma série de perguntas, começando por verdades que são óbvias, implícitas ou já conhecidas, e constrói sistematicamente a partir desses axiomas por meio de perguntas orientadoras, até que o aluno “descubra” a verdade a que está sendo conduzido.

O processo do ensino socrático exige que o professor tenha conhecimento prévio do assunto, saiba qual lição deseja que os alunos aprendam e formule perguntas cuidadosas para conduzir os alunos à verdade sem simplesmente entregar as respostas. Esse processo requer prática, paciência e estudo sobre os diversos tipos de perguntas que podem ser feitas e o poder que elas têm para direcionar o pensamento dos alunos. Em outras palavras, exige um professor de verdade e demanda um esforço prévio considerável (nada de entrada gratuita para a vila do trabalho moleza).

O benefício dessa abordagem é tremendamente valioso devido à forma como envolve os alunos no processo de aprendizagem. O método também ensina os alunos, por meio do exemplo e da prática, a formularem as perguntas certas por si mesmos. O ensino socrático é preparação para a discussão socrática (dialética), mas não devemos colocar a carroça à frente dos bois. O ensino socrático é uma maneira empolgante de explorar ideias e não permite a passividade no aprendizado. Contudo, nenhum nível de ensino socrático substitui a necessidade de os alunos lerem grandes livros, ouvirem palestras sobre história, aprenderem notação musical e a tocar um instrumento, memorizarem terminações em latim etc. Essas atividades caminham lado a lado com o ensino socrático e, quanto mais você ler Platão, mais perceberá que ele também pensava assim.

Portanto, sejamos claros e façamos as distinções apropriadas. Usemos o ensino socrático como parte do processo da educação clássica para que possamos formar pensadores plenamente desenvolvidos e instruídos, capazes de engajar-se na dialética e, assim, continuar a aperfeiçoar a si mesmos e aos que os cercam na busca pela verdade.

Original: What is the Socratic Method? Cedido e traduzido com permissão do autor.