Não treine seus filhos para abandoná-los
Na cultura bíblica, o mandamento de "honrar pai e mãe" (Êxodo 20:12; Efésios 6:2) vai muito além da obediência ocasional ou superficial. Honrar envolve reconhecer, com reverência e gratidão, a autoridade legítima que Deus conferiu aos pais, bem como o cuidado amoroso e o investimento sacrificial que deles recebemos. Trata-se de um mandamento que expressa uma ordem moral fundamental: Deus governa as famílias por meio da autoridade paterna e materna, que é derivada da Sua própria soberania.
No contexto do Antigo e Novo Testamento, a família era o principal ambiente de formação espiritual, intelectual e moral. Os pais cuidavam de seus filhos com diligência durante os anos de vulnerabilidade, e, por sua vez, esperavam — legitimamente — ser cuidados e honrados por eles em sua velhice. Essa reciprocidade refletia um pacto geracional, expressão concreta da aliança de Deus com o Seu povo (cf. Deuteronômio 6; Provérbios 1.8-9). Contudo, na sociedade contemporânea, essa dinâmica tem sido cada vez mais corrompida. A pressa, o ativismo e a fragmentação da vida familiar têm levado muitos pais a terceirizarem sua vocação educativa. Os filhos, por sua vez, ao crescerem sem prioridade relacional e formativa em casa, muitas vezes tornam-se adultos incapazes de cultivar o respeito e a honra devidos.
Como escola cristã clássica, nós existimos para colaborar com as famílias, não para substituí-las. Nessa perspectiva, operamos sob o princípio pedagógico e bíblico conhecido como in loco parentis — ou seja, “no lugar dos pais”. Esse conceito, presente historicamente em escolas cristãs de várias épocas, expressa que a autoridade que exercemos sobre os alunos é uma autoridade delegada, proveniente dos próprios pais, que, por sua vez, receberam-na do Senhor. Isso significa que os professores, ao instruírem, corrigirem e discipularem os alunos, o fazem como representantes dos pais, agindo em parceria com a família, e sempre sob a autoridade final de Deus.
É por isso que cada atividade enviada para casa, cada correção e cada orientação pedagógica deve ser recebida com seriedade e atenção. Esses elementos são expressões de um ministério educativo compartilhado, no qual a escola coopera com os pais no exercício de um chamado divino. Seus filhos recebem acompanhamento individualizado na escola, com atividades cuidadosamente pensadas para ajudá-los a crescer não apenas academicamente, mas também em caráter e sabedoria.
No entanto, é preciso lembrar: a maior parte da formação acontece fora da escola. Aproximadamente 75% do tempo de seus filhos é vivido sob sua responsabilidade direta. Por isso, a pergunta é inevitável: você está se preparando e se dedicando ao seu propósito como pai ou mãe? Participar das reuniões e encontros escolares é uma oportunidade valiosa para conhecer melhor as lutas e potencialidades de seus filhos e, à luz da Escritura, aprender a como orientá-los com fidelidade e graça.
Seja diligente nas tarefas escolares, presente na vida educacional de seus filhos, e comprometa-se com as propostas apresentadas nos encontros de pais. No tempo da honra — quando seus filhos forem chamados a retribuir o amor, a formação e os valores que receberam — desejamos estar ao seu lado, como cooperadores da verdade (3 João 1.8), e não em seu lugar.
A vocação de educar é sagrada. Que possamos juntos, escola e família, formar uma geração que honra ao Senhor em todas as esferas da vida — uma geração que vive segundo a sabedoria de Deus, que começa com o temor ao Seu nome (Provérbios 1.7).